Blog da Sietar Brasil
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Por Cristiana Lobo “ (…) culturalmente aprendi muito; provavelmente desenvolvi mais uma parte de minha personalidade conversando com outras pessoas, outra cultura, numa universidade que tem muita gente diferente. Isso acabou desenvolvendo um Marcos mais evoluído, entre aspas. (…)” Este é um trecho da fala de um dos estudantes africanos entrevistados pela psicóloga Denise Figueiredo. A entrevista fez parte do material de pesquisa do seu novo livro Diálogo Intercultural, uma Experiência Transformadora, escrito em parceria com Rosa Maria Stefanini e recém-publicado pela editora Paco. Em 188 páginas ela registra sua dissertação de doutorado em Psicologia Clínica, na PUC-SP. A ideia do tema veio da observação da dificuldade de adaptação dos grupos de estudantes vindos da África no campus da universidade. “Percebi que eles estavam sempre isolados ou em grupos próprios, até divididos por etnias, mas nunca integrados com os estudantes brasileiros”. Para compreender as razões ela conversou com alunos das seis etnias presentes na universidade e estudou os fluxos de migração entre o Brasil e a África. A pesquisa mostrou que a falta de um programa adequado de adaptação que prepare tanto os estudantes brasileiros quanto africanos atrapalha o sucesso da experiência. Eles precisam lidar com questões difíceis como o preconceito velado ou aberto, a consequente dificuldade de integração e ainda entraves financeiros, já que o visto de estudante não permite trabalhar no país. A ausência de empatia de ambos os lados também foi constatada por ela. “É difícil para os estudantes brasileiros se colocar no lugar deles e vice-versa. Não há uma curiosidade, não há um reconhecimento do ‘outro’ diferente”. Levar o intercâmbio até o fim acaba sendo um desafio já que no Brasil eles vivenciam um preconceito que não é tão forte por lá. Na África, há separações relacionadas às etnias, mas muitos destes jovens nunca precisaram lidar com questões raciais tão fortes, segundo eles, quanto aqui. O principal estímulo destes estudantes é o peso que a passagem por uma universidade brasileira tem no currículo deles e o maior apoio vem do senso de comunidade, que é muito forte segundo a pesquisadora. “O que eu ouvi nas entrevistas é que na África, se você tem família você sempre terá apoio. E não apenas dos pais ou dos irmãos, mas de todos os membros da família, todos se responsabilizam por todos”. Além do senso de união, ela destaca nestes jovens características comuns como a alta resiliência, o poder de superação, a determinação e a seriedade com os compromissos assumidos. A leitura é um ponto de partida para repensarmos toda relação com nossas diferenças, nossos muitos brasis.
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