Blog da Sietar Brasil
(INATIVO)
Por Cristiana Lobo
A pesquisadora e interculturalista italiana Ida Castiglioni vem ao Brasil para lecionar o workshop Embodied Culture, que acontece em outubro. Ida é professora da Universidade de Milano-Bicocca e dirige ao lado de Milton Bennett a IDR Academy, de Milão. Ph.D. em Comunicação Intercultural pela Universidade de Jyväskylä (Finlândia), ela tem mestrado em Psicologia Somática e faz parte do corpo docente do Instituto de Psicologia Somática, localizado em Milão (IPSO). Ida atua como consultora de grandes empresas e instituições públicas e participou do Conselho de Administração da SIETAR Europa e SIETAR Itália. Autora de diversos artigos sobre interculturalidade em italiano e em inglês, ela já publicou alguns livros sobre o tema. Nesta entrevista ela conta um pouco sobre seu trabalho com o corpo e sobre seu curso, que aborda a descoberta do self e do “outro” no contexto cultural. 1) Em que consiste o seu trabalho com o corpo, exatamente? O trabalho consiste em movimentos simples acompanhados de respiração profunda para que a pessoa se torne mais consciente de como nos sentimos em nosso corpo. 2) Como a cultura é expressa através do corpo? Você pode dar alguns exemplos? Seja qual for a forma como nos movemos, vemos ou falamos, tudo é uma construção cultural que compartilhamos com um número de pessoas. Por exemplo, a forma como andamos: cada um de nós tem um estilo pessoal de caminhada e ainda assim eu tenho certeza que você seria capaz de dizer para um bom número de pessoas se eles vêm de São Paulo ou Rio de Janeiro apenas ao observar sua maneira de caminhar. 3) Como este conhecimento pode ajudar o trabalho dos formadores interculturais? Auto-consciência cultural é a chave para a compreensão de outras culturas. Além disso, esta é uma perspectiva que ajuda a 1) ampliar a capacidade empática 2) compreender a profunda conexão que temos com as pessoas da nossa cultura, 3) criar o sentido de identidade em vários níveis e identidade multicultural em um nível profundo, 4) ajudar a si mesmo e outros no ajuste mais rápido e melhor em diferentes contextos culturais. 4) Quando você chega em um lugar com uma cultura diferente, como usa seu conhecimento da bioenergia / cultura corporal para buscar a integração? A minha formação como terapeuta está relacionada à análise bioenergética (A. Lowen é a referência principal). No entanto, nos meus cursos, eu uso o conceito de “cultural embodied experience”, em que o corpo tem a sua própria história. A tentativa de se adaptar melhor, na minha opinião, tem a ver com uma resolução do conflito entre a forma como você faria as coisas e como elas parecem acontecer no novo contexto. Esses conflitos não são simplesmente cognitivos, mas também estão localizados em seu corpo. Compreender onde e porque, e se tornar capaz de reformular algumas construções na mente / corpo é a chave. 5) A cultura italiana usa muitos gestos e valoriza a expressão, nesse sentido pode ser um pouco semelhante à cultura brasileira. Qual é a dificuldade que uma pessoa de uma cultura mais expressiva poderia encontrar para lidar com pessoas de culturas "introspectivas"? Como se adaptar? Uma vez que você pode simpatizar com um sentido mais contido do ser e realmente sentir isso, é normal você respeitá-la, sem tentar imitá-la. A adaptação flui. 6) Você acha que o campo de estudo intercultural aborda esta questão do corpo e as emoções de forma adequada? Tradicionalmente não. O campo intercultural tem sido principalmente uma longa viagem cognitiva. No entanto, experimentamos a realidade através de nossos corpos, não é? O artigo que Milton e eu escrevemos em 2004 foi um grande avanço. Eu sugiro a leitura: Bennett, M. J. and Castiglioni I. (2004) "Embodied ethnocentrism and the feeling of culture: A key to training for intercultural competence" in Landis, D, Bennett, J., and Bennett, M (Eds.) Handbook of Intercultural Communication Training, Third Edition. Sage: Thousand Oaks and London, 249-265. 7) Como será o seu curso no Brasil? Estou muito animada para encontrar pessoas no Brasil. Dada a predileção dos brasileiros de usar o corpo para expressar as emoções, eu espero que seja útil para eles entenderem um quadro teórico para canalizar suas inclinações instintivas. 8) Por que o curso de Milton é um pré-requisito para o seu curso? É fundamental compreender o quadro maior e o paradigma em que um trabalho sério com o corpo pode ter lugar. Precisamos de um profundo entendimento de como criamos a realidade e a experiência. Sem isso, corremos o risco de saber apenas truques e técnicas que não fazem sentido no longo prazo. E uma vez que estes tipos de truques não são coisas que "possuímos" teoricamente, não podemos nem usar nem vendê-los aos nossos clientes. 9) Como você vê a cultura brasileira em relação ao corpo / emoções? A cultura brasileira tem diferentes níveis de expressões, de mais contido para muito amplo. É um universo em si mesmo. Um erro comum é tratá-los da mesma forma. Acho que podemos começar a partir do respeito desta diversidade nacional para entender como somos e a forma como nos relacionamos com ela. É um grande primeiro passo para a ampliação de nosso repertório de comportamento, tão necessária para o bom trabalho intercultural. Mais informações sobre o workshop: Hanna Helstelä: hanna@helstela.com Sábado, dia 27 de junho, é a vez da nossa presidente Ines Meneses, especialista em alinhamento de pessoas, participar como palestrante da 4a edição do evento Compartilhando Interculturalidade. Uma ótima oportunidade de aprender com seu estilo de gestão baseado na Investigação Apreciativa - método que reforça o aspecto positivo de pessoas e organizações. Ela escreveu algumas palavras sobre a palestra. Por Ines Meneses Muitas vezes nossos participantes chegam à sala de treinamento repletos de dúvidas, medos e ansiedades. Às vezes é um casal que vai cruzar ou já cruzou fronteiras, outras vezes uma equipe que precisa se preparar para superar fronteiras sem sair de casa. Independentemente do tipo de treinamento intercultural, é comum haver algum (ou muito) estresse envolvido. Parte do nosso papel como profissionais interculturais é oferecer a esta pessoa uma nova perspectiva para perceber a si mesma, ao outro e ao ambiente. Oferecer respostas prontas geralmente traz poucos resultados. Mesmo se souber a resposta, o facilitador, com sua formação de coach, sabe que o participante precisa encontrar a resposta dentro de si. É neste momento que selecionar pergunta certa faz toda diferença. É o que chamamos pergunta poderosa positiva. Poderosa porque ela já traz em sua formulação a mensagem implícita de que aquele que responde tem o poder, se apropria da situação, é dono do seu destino. Por outro lado, o poder pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal. Alguém pode usar seu poder pessoal para construir o futuro que deseja ou para destruí-lo. E, cá entre nós, estamos acostumados com o discurso do déficit. Não só acostumados, somos treinados desde crianças nele, a maioria de nós tem PhD em reclamar. É só ligar a televisão em qualquer noticiário e fazer uma proporção entre notícias negativas x notícias positivas. Goleada de 10x1 para as negativas, se não for 10x0! Uma sociedade negativista como a nossa só tende a agravar situação de incerteza de alguém que vai cruzar fronteiras físicas ou virtuais. Por isso, a importância do facilitador intercultural atuar como um contrapeso e virar este jogo. A ideia é inspirar o participante a criar uma vida e um trabalho com uma perspectiva positiva. No evento de sábado, vou combinar explicações teóricas breves, exercícios práticos, dinâmicas e discussão. A intenção é que os participantes deste Compartilhando Interculturalidade levem exemplos de perguntas poderosas positivas para seus treinamentos e inspiração para criar suas próprias perguntas. Recomendo a leitura prévia do pequeno livro “The Thin Book of Appreciative Inquiry” de Sue Annis Hammond, disponível na Amazon em papel ou digital. São cerca de 2 horas de leitura, um tempo bem investido que vai potencializar o aproveitamento da palestra. Aguardo vocês lá! Ines Meneses Evento: Compartilhando Interculturalidade, 4a Edição Quando: Sábado, 27/junho, das 9:30 às 11:30 Onde: Rua Almirante Pereira Guimarães, 211, Pacaembu, São Paulo Investimento: R$ 30 Associados, R$ 50 Não Associados RSVP: sietarbrasil@gmail.com até 24/junho |
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