Blog da Sietar Brasil
(INATIVO)
(Para matéria Ferramentas de Assessment Intercultural, clique aqui) Lucy Linhares é pesquisadora, antropóloga e interculturalista. Veterana do setor, ela trabalhou durante anos com os índios da Amazônia, fez diversas viagens internacionais a trabalho, atuou na AFS e é uma das fundadoras da SIETAR Brasil. Nesta entrevista ela conta um pouco sobre sua trajetória e destaca a importância do trabalho de formação, troca de ideias e profissionalização que a ong realiza nesta área ainda nova no Brasil. Como surgiu a SIETAR Brasil? A SIETAR foi criada em 2010 como resultado das discussões de um grupo de interculturalistas que há algum tempo pensava sobre a importância de se organizar o campo intercultural no Brasil. Desde que comecei a frequentar as reuniões internacionais da SIETAR, eu já pensava na importância de uma SIETAR no Brasil. Em 1998, fiz uma primeira tentativa de organizar uma SIETAR brasileira. Ela não foi em frente porque os antropólogos que eu havia conseguido reunir em torno da ideia, embora achassem o assunto fascinante, não tinham uma prática profissional na área da interculturalidade. Essa tentativa me colocou como “interlocutora” da SIETAR Internacional no Brasil. Participei de uma série de discussões políticas e de cisões que aconteceram ao longo dos anos. Depois eu conheci a Ines Meneses em um encontro da SIETAR em Austin/USA, em 2003. Ali falamos sobre a possibilidade de uma SIETAR Brasil. Nos reencontramos em São Paulo e discutimos a viabilidade, a qual aderiram outros interculturalistas. Em 2008, durante a Conferência Global em Granada incorporamos sangue novo com a Mariana Barros e na volta ao Brasil passamos à ação. Em 2010, fundamos a SIETAR formalmente e eu fui a primeira presidente, realizando nossa primeira conferência em 2011. Como você define o profissional chamado “interculturalista”? Um interculturalista é o profissional cujo foco de interesse é a interseção entre as culturas. Diferente do antropólogo, cujo objetivo é entender o âmago das culturas, sua lógica e funcionamento, o interculturalista precisa entender e propor soluções para as questões que surgem a partir da convivência entre pessoas de culturas diferentes. É verdade que para isso ele precisa entender as normas sociais e hábitos de cada uma das culturas envolvidas, mas sua atenção fica focada mesmo nas áreas onde essas culturas se distanciam, causando conflitos e desentendimentos entre as pessoas. Como você chegou ao interculturalismo? Em 2003, fui convidada para trabalhar na Secretaria Executiva do AFS (American Field Service) no Brasil, uma organização de intercâmbio estudantil que eu havia participado em 1972. O AFS é uma organização muito tradicional que tem uma história muito bonita. No AFS eu descobri que o interculturalismo era um campo profissional muito bem organizado, com teóricos que pensavam as questões fundamentais da área e uma metodologia de trabalho. Alguns diretores do AFS na época eram associados à SIETAR Internacional, e eu também me associei em 1995. Em 1996, fui a minha primeira conferência, em Nova York. Lá conheci pessoas que foram fundamentais na minha formação como interculturalista e recebi as minhas primeiras “certificações”, que é uma licença para trabalhar com determinadas metodologias. Por que a SIETAR se tornou importante para você? Porque foi o meu caminho para a profissionalização na área. Assim que eu saí do AFS, em 1996, eu abri uma consultoria chamada ICA - International Cultural Assistance, e de cara consegui um cliente – a Walt Disney Industry Brasil, indicado por um contato da SIETAR. Eu achei que minha vida de empresária ia ser fácil, mas isso foi um engano. É muito difícil ser empresário, você precisa ter vocação, e não é a minha. Depois desse primeiro cliente, eu tive outros poucos, mas odiava fazer marketing e principalmente vender. Optei por construir uma “reputação” internacional me apresentando em conferências internacionais da SIETAR. Fui certificada como treinadora da maioria das grandes empresas da nossa área, trabalhando como consultora individual e desenvolvendo contatos sempre a partir dessa associação profissional com outros interculturalistas que a SIETAR proporciona. Durante a criação da SIETAR Brasil você pensou na possibilidade de haver um aumento da concorrência no setor? Não, quando profissionais de qualidade atuam juntos, trocam experiências e se apresentam para empresas nacionais e internacionais, você cresce em importância e relevância - o mercado se amplia, em vez de diminuir. Escrevi uma carta que está no nosso blog chamada “Por que devemos organizar uma SIETAR no Brasil” onde estas questões são discutidas a fundo. O que você vê para o futuro da SIETAR Brasil? Temos agora a segunda gestão com a Ines Meneses. Já foi realizada uma terceira conferência, cuja palestra de abertura foi de Milton Bennet, um dos ícones do campo intercultural. A SIETAR Brasil cresceu em número e importância e vem realizando projetos relevantes, tanto do ponto de vista social (como os treinamentos para os refugiados políticos) quanto educacional, com uma rede organizada de voluntários atuantes. Também há diversas iniciativas na área de formação profissional e agora está sendo criada a divisão “Páginas amarelas” no LinkedIn onde serão listados os associados da SIETAR Brasil e os serviços que eles prestam. Vejo um grande interesse por parte dos jovens e acredito que precisamos focar na area acadêmica, a fim de estabelecermos um diálogo com as áreas afins, apresentando a nossa metodologia e dando credibilidade aos nossos profissionais. É muito importante que os interculturalistas brasileiros tenham uma “formação sólida”, conhecendo os teóricos mais importantes e as diversas metodologias do mercado. Não é possível construirmos a nossa credibilidade com indivíduos que apenas tiveram uma experiência de expatriação, por melhor que sejam as suas intenções e por mais ricas que tenham sido as suas experiências internacionais. Nesse sentido, a SIETAR oferece eventos em parceria com os associados e contribui para melhorar a formação dos que têm interesse na area. |
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